Eles vão

Por Ana Quitéria

Animais são como anjos, que vem, enchem as nossas vidas com suas presenças e, cumprida a missão, seguem em frente e nos deixam por aqui

Outro dia uma amiga estava triste. Alguém a quem ela estava muito ligada morreu. Minha amiga salvou um cachorro abandonado e cuidou dele até o fim dos dias do bichinho. Ele morreu confortavelmente embalado por uma música que ela gosta, debaixo das lágrimas daquela que o amou muito, por poucos dias: aqueles desde o primeiro encontro, até o fim.
As melhores criaturas do mundo são assim. Vem, nos dão amor, recebem o nosso, amolecem, enriquecem e calibram nossos corações e depois vão embora. Animais são como anjos, que vem, enchem as nossas vidas com suas presenças e, cumprida a missão, seguem em frente e nos deixam por aqui.

A sensação de vazio é enorme. E há quem os evite com medo de se apegar. Depois da morte de um, há quem diga que nunca mais, não que mais saber, nem pensar. Mas o que é a vida, a não ser a ótima chance de apego?
Não a carros, imóveis ou jóias, mas a seres vivos, a quem se possa amar e, por que não, chorar quando eles forem embora, porque é melhor chorar do que não sentir, do que não ter um amor para lembrar. E se esse amor vier em forma de rabinhos, orelhinhas e patinhas em festa, é só uma garantia de que ele é eterno, até que a morte os separe. E que venha o próximo amor. 

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