25 de julho de 2011

Confinamento de cãezinhos no comércio causa patologias

Desde os primeiros dias de vida eles já são condenados a pagar um alto preço. Se o sol os alcança, é por trás do gradeado. O direito de viver em liberdade lhes foi tomado e, sem cuidados adequados, sua imunidade fica comprometida. Os filhotinhos de cães que enchem os olhos de quem passa pelas vitrines de pet shops ou até mesmo em mercados públicos já nascem taxados como produtos. Sempre à disposição dos comerciantes, a função é exibir excesso de "fofura" em suas gaiolas com, se muito, 1 metro quadrado, para logo serem vendidos. Entre tanto descaso e maus tratos, a situação dos prisioneiros de estimação, muitas vezes, é de dar dó.

Cabisbaixos e sonolentos. Os filhotes encontrados no Mercado da Madalena, por exemplo, passam longe das características marcantes de cachorrinhos quando cuidados com amor. Nada de agito e alegria. Sem nome, identificação de procedência ou certeza da raça, eles ali são tratados como um número. “Esse aqui é R$ 50. É uma mistura de pastor alemão com vira-lata”, propaga o vendedor. Ao ser questionado sobre os pais do animal, o rapaz conta que em uma relação "extraconjugal", o cachorro de um conhecido pulou a cerca e se envolveu com uma cadelinha de rua, que acabou ficando prenha. “Os dois filhotes mestiços da cria foram encontrados na rua e trazidos para cá. Agora eles estão com dois meses”. 
De acordo com o veterinário Rogério de Holanda, o confinamento causa estresse aos cãezinhos, que acabam desencadeando uma série de distúrbios hormonais e baixando a imunidade. Se não bastasse a falta de espaço, os cães são obrigados a conviver com suas fezes até que elas sejam retiradas do local, além da facilidade da contração de bactérias dos vizinhos de “cela” ou da sujeira que ali se acumula. “Fora isso, a falta de movimentação causa ao animal obesidade e atrofia muscular”, destaca Holanda. 
Outras patologias como Cinomose (vírus normalmente letal), Parvovirose ou Gastroenterite Hemorrágica (vírus com sintomas de vômitos e diarréia sanguinolenta) e Hemoparasitores (parasitas no sangue), também estão diretamente ligadas à falta de higienização, ao estresse, à baixa imunidade e às gaiolas apertadas. “Eles precisam ter acesso ao sol, precisam caminhar. São muito novinhos ainda e correm bastante risco com essa exposição”, alerta o veterinário. 

Paralelamente aos mercados públicos, a fachada de pet shops engana mais. Os bichinhos dali parecem ser mais bem cuidados, mas podem passar pelos mesmos problemas - ou piores. Nem todas as lojas oferecem a iluminação adequada ou a temperatura ideal para o filhotinho não passar frio durante as horas comerciais. É importante observar se os animais estão sendo manuseados com luvas, para que não sejam passadas bactérias ou vírus do meio externo, já que na maioria das vezes eles ainda não têm tomado as vacinas iniciais. Também é primordial saber a procedência do cão, para que se ele tiver alguma doença os cuidados específicos sejam direcionados.  

O veterinário Rogério de Holanda também diz que é extremamente necessária a rotatividade de filhotes. “Os donos de pet shop compram uma ninhada de cães a “criadores” e deixam uns três na vitrine, o que é desnecessário. Para evitar mais sofrimento, só basta um, e esse tem que ser trocado por outro constantemente”, frisa. Em relação ao momento para a captação do animal, 45 dias de vida é o tempo inicial. “Entre 25 e 30 dias o filhote já começa a se adaptar à ração, e aos pouquinhos vai deixando o leite materno” explica Holanda.
PROTEÇÃO – O Movimento de Defesa Animal de Pernambuco (MDA) já vem realizando blitz, primeiramente educativas, em pet shops e em mercados públicos, em parceria com a Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma), para verificar situações de maus tratos dos animais postos à venda. De acordo com Goretti Queiroz, integrante do MDA, posteriormente as blitz serão punitivas. “A princípio somos contra o comércio de animais e a favor da adoção. Mas, enquanto não conseguimos aprovar uma lei nacional para proibir a venda de animais, lutamos para que, ao menos, eles tenham seus direitos respeitados”. 

A protetora dos animais complementa, ainda, que as gaiolas têm que ser limpas, os espaços amplos e a alimentação suficiente. “Os filhotes não podem dormir no local do comércio e nem ficar nos finais de semana. Também só podem ser vendidos quando vacinados e vermifugados”. 
CRIME - Os vendedores flagrados praticando maus tratos estão infringindo o Decreto 24.645 de 10 de Julho de 1934 -Art. 2º - "Aquele que, em lugar público ou privado, aplicar ou fizer maus tratos aos animais, incorrerá em multa na pena de prisão, quer o delinquente seja ou não o respectivo proprietário, sem prejuízo da ação civil que possa caber" - e à Lei 9.605 de 1998 - Art. 32. - "Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: pena - detenção, de três meses a um ano, e multa".

SERVIÇO

Caso você já tenha presenciado cenas de maus tratos a animais, o procedimento é denunciar ao Depoma pelos telefones (81) 3184.7120/3184.7119 ou pelo e-mail dp.meioambiente@policiacivil.pe.gov.br.

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